sexta-feira, 3 de novembro de 2017

FILOSOFIA POLÍTICA


Releio, num ensaio antigo de Allan Bloom, a sua resposta à pergunta "Como deveria ser educada a próxima geração de filósofos políticos?", que o próprio Bloom, aliás, converte nesta outra pergunta: "Como deverá a próxima geração de professores de filosofia política ser educada?"

E no que afirma o Autor, reconheço uma tese que me parece tão certeira como simples, mas, no confronto com a realidade, só poderá arrastar-nos para o pessimismo. O segredo residiria na leitura dos textos políticos. No conhecimento dos clássicos, de Sócrates (isto é, de Platão) aos contemporâneos, e numa contínua discussão com todos eles, através da qual procuraríamos, fundamentalmente, "a sabedoria acerca da melhor forma de viver, do bem mais vasto, ou da justiça e do melhor dos regimes."

De certo modo, argumenta Bloom, esta busca pressuporia a existência do bem e a nossa capacidade para o reconhecer racionalmente. E no entanto, duas correntes dominantes do nosso tempo, o positivismo e o historicismo, negam essa possibilidade - ou, até, a sua conveniência.

Por outro lado, os homens que se dedicam, hoje, à política, são, em geral, o mais distante possível de filósofos políticos. Desejam ser apenas "políticos": partem unicamente do seu próprio presente, treinados numa luta estritamente ideológica, e nutrindo, pelo exercício teórico, ou pelas ideias dos pensadores do passado, um desprezo e uma ignorância que chegam a ser sublimes.

Falo, de resto, dos políticos em geral, da Direita à Esquerda. Se os primeiros raramente vão além, quando aí sequer chegam, de reivindicar um putativo legado de Sá Carneiro, os outros fixaram-se em Marx, Lenine ou Trotski. É pouco para se ter, em política, um pensamento. Afinal, recorda Bloom, mesmo os pensadores que mais inovaram e quiseram transformar, ou transformaram de facto, os que fundavam uma visão e uma acção originais, em ruptura com a tradição, faziam-no a partir de um conhecimento dessa tradição, que daria, precisamente, sentido ao seu gesto revolucionário.

Nos debates, na Assembleia ou no interior dos partidos, em televisão ou em artigos e colunas de jornal, o que testemunhamos não é tanto o pulular de ideias erradas. É a ignorância de ideias. É a ignorância dos problemas, num sentido profundo e filosófico da palavra. É a substituição de qualquer suspeita de pensamento, por princípios partidários, frases feitas, sons que se colam ao ouvido, ruído e falácias. É um meio em que se não tem consciência de tal realidade como um mal ou uma falha. Pelo contrário: as pessoas são educadas para um tal tipo de jogo e combate, e aspiram apenas a ser os maiores nesse género de luta e de retórica menores.

Começo a suspeitar que é uma forma que se implantou no mundo inteiro. Embora algo me recorde que, no capítulo da incultura política, nós, portugueses, e os políticos que, provavelmente, são os que merecemos, devemos estar muitíssimo bem colocados.

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