segunda-feira, 14 de agosto de 2017

NACIONALISMO


Vivemos sob um governo das Esquerdas, o que me soa bem. Aparentemente, a uma parte considerável do país, também. Coelho voltou para a cartola e já nem no próprio partido há quem o oiça sem imediatamente se interrogar sobre como, ou quando, se livrar dele, não tendo de o matar. A não ser metaforicamente. Cristas multiplica-se em projectos, sim, mas, aos que não são apenas insípidos, subjaz tamanha arrogância, que se percebe que espécie de desespero a move.

Mais do que tratar-se de um governo de Esquerda, é uma geringonça. Ou seja, uma estrutura periclitante, que exige a contínua negociação entre uns partidos impacientes, e um outro que não tem a mesma urgência e não pode deixar de levar em consideração diversos compromissos e clientelas. O que poderia resultar num saco de gatos, tornou-se, pelo contrário, numa garantia de mútua vigilância e em acordos razoáveis.

É uma solução inédita na Europa. Só a Direita não compreende (ou não lhe interessa reconhecer) que esse equilíbrio entre objectivos divergentes não significa um país submerso no caos. É uma inesperada vantagem e um enriquecimento da democracia.

Teóricos políticos de toda o mundo reflectem sobre a diferença portuguesa. Um governo eficaz da Esquerda mais a inexistência de um nacionalismo louco e radical à semelhança do que grassa na Europa e nos EUA.

Ora, tenho, sobre a ausência de um nacionalismo forte, em Portugal, uma tese que não me vai granjear popularidade. Sou pessimista. Não é que não haja xenofobia entre nós. Não é que, mais ou menos secretamente, não sejamos racistas. Não é que, no autocarro, não digamos mal dos ciganos, ou que, no automóvel, olhando em redor, não pensemos que há demasiados estrangeiros a fruir o nosso sol e as nossas praias. O nacionalismo português, no seu pior, escorre pelas paredes, alastra nos corredores, atravessa a História, sufoca-nos.

Deve-se, porventura, à falta de imaginação e de energia, que não tenham surgido um partido ou um líder nacionalistas atractivos para os desempregados, para os miseráveis e para os ricos de mais. Uma lusa Le Pen, um luso Trump. Quando tropeço em comentários racistas na Internet, percebo que a falta de uma Extrema-Direita politicamente organizada, entre nós, não será certamente consequência de uma melhor natureza ética dos portugueses. É uma sorte que não fizemos por merecer. Como o clima, Sintra ou a Geringonça.

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